Não é só nessas alturas que uma mãe (e muitas vezes um pai) não dorme. É constantemente, desde que a criança nasce até ao dia em que sai de casa. A verdade que ninguém nos conta é que, com a maternidade, nasce uma capacidade auditiva paranormal, que faz com que consigamos ouvir o nosso filho gemer mesmo a duas divisões de distância e com a porta do quarto fechada, e isso provoca graves perturbações no sono. Também nasce um sexto sentido, que nos acorda durante a noite para nos dizer que ele está todo destapado, está a começar a chocar alguma virose ou esqueceu-se de colocar o despertador para ir à visita de estudo cuja partida é às sete da manhã. E se nenhuma destas situações ocorrer e estivermos convencidas de que vamos dormir umas oito horinhas de seguida, os filhos arranjam maneira de, logo nesse raro dia, que geralmente ocorre durante o fim-de-semana, acordarem mais cedo.
Assim, dormir uma noite realmente descansada começa a ser visto por uma mãe como um luxo arábico. Algo que um dia experimentámos, mas que agora não passa de uma ténue recordação. Como a recordação daquelas férias maravilhosas, por exemplo. Sabemos que elas aconteceram, temos fotografias que o atestam, lembramo-nos do sabor do Mojito, da música que estava a tocar, mas nada daquilo existe para lá da nossa memória. E é por isso que a maioria das mães (e muitos pais), quando conseguem recambiar a prole para casa dos avós, tios, amigos ou para um mero campo de férias, preferem dormir a qualquer outra actividade nocturna.
Os amigos que não são pais ficam chocadíssimos com isto. Mas anda lá beber um copo, que estás sem os miúdos. Não sejas anti-social. Há quanto tempo não sais à noite? Também faz bem descontrair um bocado, dar um pezinho de dança... Esqueçam! Não há hesitação: entre ir para uma noitada com amigos e demorar três dias a recuperar (dois dos quais já na presença das nossas pequenas pestes hiperactivas) e poder dormir um sono retemperador pela primeira vez em meses, a escolha é óbvia. Aliás, já me aconteceu deixar o miúdo em casa dos avós para poder ir a um evento qualquer e, à última da hora, trocar a minissaia pelo pijama e enroscar-me no meu marido a ver um bom filme, seguido de 10 horinhas a dormir.
E se for para ter uma noite de sexo escaldante? Também não. Acreditem: para uma mãe cansada, o prazer supremo é apenas e só uma cama fofinha num quarto silencioso, sem despertadores electrónicos ou humanos. Talvez amanhã, durante a sesta ou quando a criançada estiver naquela festa de anos. Até porque o sexo escaldante foi o que nos colocou neste estado, não foi?
Bela Adormecida ©Filipa Silva |